O caráter mais perverso da corrupção
Embora a Operação Lava Jato, iniciada em março de 2014, seja a maior ação de repressão ao crime organizado do mundo, outras forças-tarefa realizadas em pequenos municípios chamam atenção para o fato de que a corrupção não tem tamanho. Infelizmente, é um problema tão comum que no ano passado o então ministro da Justiça, Torquato Jardim, chegou a dizer em um congresso do Fórum Econômico Mundial para a América Latina que a Lava Jato é a ponta de um iceberg se comparada com a corrupção das administrações municipais brasileiras.
Na edição de segunda-feira (7), a Folha de Londrina publicou reportagem fazendo um balanço de operações do Ministério Público realizadas em cidades menores do Norte do Paraná em 2018.
Municípios como Bandeirantes, Alvorada do Sul, São Jerônimo da Serra, Guaraci, Santa Terezinha de Itaipu (Oeste), Paiçandu (Região Metropolitana de Maringá), Palmital (Centro-Oeste), Enéas Marques (Sudoeste) e Araucária (Região Metropolitana de Curitiba) receberam a "visita" dos agentes do MP. Araucária é o único município da lista cuja população passa dos 100 mil habitantes.
Na região de Londrina, a repercussão das operações foi grande. O "calendário" começou no início de 2018 com a Operação ZR3 , deflagrada após investigar a suposta formação de uma organização criminosa que agia para obter vantagens indevidas por meio de projetos de mudança do zoneamento urbano, e cuja repercussão teve protagonismo na agenda política do município ao longo de todo o ano por envolver dois vereadores em pleno exercício dos seus mandatos, Mario Takahashi e Rony Alves. Também foi deflagrada a Operação Password, cujo alvo eram três servidores da Secretaria Municipal de Fazenda, uma ex-estagiária e o pai, que teriam agido para cancelar a cobrança de IPTU no cadastro da prefeitura em troca de propina.
Em Rolândia, o MP afastou do cargo o prefeito Luiz Francisconi Neto, além de nove agentes públicos, suspeitos de envolvimento em um esquema de propina em troca de favorecimento em licitações.
A corrupção em escala municipal não tem a visibilidade de uma Lava Jato, mas nem por isso o estrago que causa é menor. Os prejuízos à população chegam devastando serviços que afetam saúde, educação, obras e infraestrutura. Quando é praticada em cidades com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o crime assume o seu caráter mais perverso.
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