Você sente saudade ou tem obsessão pelo 'ex'? Entenda a diferença
Há diferentes formas de encarar uma rejeição amorosa. Algumas pessoas, dotadas de boa autoestima e capacidade de resiliência, transformam o fim em recomeço. Em vez de guardar e alimentar rancor pela antiga paixão, filtram as lembranças e procuram guardar somente os momentos bons na memória.
Outras, no entanto, não conseguem digerir a frustração amorosa. Recusam-se a aceitar que a relação acabou, desenvolvem um sentimento de posse pelo "ex" ou pela "ex" e não conseguem e nem querem esquecê-lo.
Telefonemas e e-mails implorando por uma reconciliação, vigília nas redes sociais e até na porta de casa ou do trabalho são algumas atitudes típicas. Mesmo que o outro deixe bem claro que não há chance de volta, não tem jeito: a pessoa desenvolveu uma obsessão, comportamento que pode atrapalhar todas as esferas de sua vida.
Motivos que levam à obsessão
De acordo com a psicóloga e terapeuta de casais Triana Portal, o perfil mais comum é o de quem sofreu várias perdas, decepções amorosas em série, traições, mas, principalmente, falta de amor dos pais na infância. "São indivíduos que apresentam uma estrutura emocional frágil, com baixa autoestima, carência e insegurança", afirma.
Segundo a psicóloga Raquel Fernandes Marques, as obsessões também estão relacionadas à ansiedade criada em resposta a uma situação muito estressante, esmagadora e dolorosa.
De acordo com ela, uma frustração amorosa, uma família desestruturada ou ambientes de trabalho nocivos podem causar excesso de ansiedade. "A pessoa pode ficar comprometida emocionalmente e tentar buscar uma saída para fugir dessa realidade. Sendo assim, a obsessão se associa a um desejo intenso e à necessidade de preenchimento dessa privação".
Para sobreviver ao fim da relação, há quem crie um mundo irreal, com fantasias que preencham esse vazio. Em vez de seguir em frente, a pessoa passa dias e noites pensando em seu "ex", fazendo perguntas aos amigos, ouvindo músicas ou lendo bilhetes de quando estavam juntos.
A obsessão costuma ser determinada pelo ciume. É um amor que alterna entre momentos de prazer e de sofrimento e que empurra a pessoa para situações doentias, como perseguir o antigo parceiro ou parceira. Nada mais interessa.
A psicóloga e educadora sexual Ana Canosa explica que obsessão é uma ideia fixa que volta à mente o tempo todo e interfere na racionalidade. "Muitas vezes, a obsessão está acompanhada de estratégias para finalidades específicas, como fazer o 'ex' voltar a qualquer custo, acabar com sua nova relação ou simplesmente prejudicar sua vida. Mas, às vezes, nem existe de fato a intenção de reatar, o objetivo maior é destruir", afirma.
Obsessão x saudade
Sentir saudade de um relacionamento é natural e diferente da obsessão. É a memória de algo que aconteceu e que dificilmente voltará a acontecer da forma como foi. É a mistura dos sentimentos de perda, falta e amor.
"A saudade não abala a razão com facilidade. Você tem saudade da pessoa, das situações que viviam, da voz, do beijo, do abraço. É um sentimento que envolve carinho, ao contrário da obsessão, que se torna um aprisionamento", diz Ana Canosa. Segundo ela, quem tem saudade reconhece o outro como alguém com vontade própria. A pessoa obcecada, por sua vez, é codependente e ainda não amadureceu.
Como se livrar da obsessão?
Se não combatida, há o risco de que a obsessão se torne perigosa, com diversos sintomas físicos e psíquicos. Muitas pessoas se envergonham ou se culpam por determinadas atitudes, podendo sofrer de ataques de pânico, dificuldades de concentração, depressão ou distúrbios alimentares e de sono. O estresse constante gera irritação, acessos de raiva e agressividade. Nos casos mais extremos, também podem ocorrer pensamentos suicidas ou homicidas.
Se você se identificou com as características obsessivas e quer se livrar desse quadro, o primeiro passo é contar com o apoio de amigos e familiares. Obsessões e compulsões podem consumir a vida da pessoa até levá-la ao isolamento social. Ao envolver outras pessoas, você se protege contra retrocessos e mantém a motivação em alta.
Em segundo lugar, tenha em mente que o processo não será fácil, mas é algo possível. Trabalhe ativamente para eliminar os comportamentos compulsivos, desafio que exige compromisso e prática diária.
"Uma boa ideia é praticar técnicas de relaxamento, como yoga, meditação, alongamento e respiração profunda. Elas aliviam o estresse e podem ajudar a reduzir os sintomas da ansiedade provocada pela obsessão", diz a psicóloga Raquel Fernandes Marques.
As redes sociais ajudam a alimentar o comportamento obsessivo. Normalmente, as pessoas obcecadas não desenvolvem suas próprias relações, pois concentram todas as suas energias em vigiar a vida do "ex". Também não aceitam que o antigo parceiro desenvolva nenhuma atividade que fuja ao seu controle total e absoluto e por isso se tornam "stalkers" (perseguidores, em inglês).
"A pessoa obcecada tem nas redes sociais combustível para sua obsessão. A cada foto ou post publicado ele é alimentado e, como em um vício, fica cada vez mais ansioso e preso. A pessoa busca incessantemente controlar o ex-parceiro, mesmo que virtualmente, para que ele não escape", diz Triana Portal.
Buscar atividades prazerosas que amenizem a ansiedade e distraiam a mente e se valorizar, lembrando-se de realizações, capacidade e habilidades, também são formas de desviar a atenção do outro e tomá-la para si. "Toda vez que se sentir à beira de uma recaída, pensando em ligar para o 'ex' ou espionar a rotina dele, tente refletir sobre seu próprio valor, pensar na vida antes do relacionamento e vislumbrar um futuro mais feliz", diz Triana.
Heloísa Noronha
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
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